Projeto pretende enviar astronautas para o planeta vermelho em 2022. Empresário idealizador diz, no entanto, que viagem será só de ida

Missão vai tentar descobrir se há vida em Marte, mas primeiro precisa vencer a complicada sequência de pousoHolandês pretende financiar missão até Marte com dinheiro ganho durante transmissão da aventura. Projeto é visto com ceticismo pela comunidade científica (Divulgação)
A organização holandesa sem fins lucrativos Mars One lançou nesta segunda-feira uma convocação para que voluntários se candidatem a uma viagem só de ida ao planeta vermelho, a ser realizada em 2022. Lá, eles deverão participar de um reality show, que cobrirá os custos da  missão. Qualquer um pode se candidatar, desde que seja maior de 18 anos e fale inglês. O anúncio foi realizado durante uma entrevista coletiva em Nova York.
No total, a Mars One busca 24 voluntários — ou seis grupos de quatro pessoas — de diferentes nacionalidades, que deverão fazer a viagem de ida com dois anos de intervalo. As principais qualidades esperadas dos candidatos são “capacidade de adaptação, tenacidade, criatividade e compreensão dos outros”, segundo Norbert Kraft, diretor médico da empresa.
Os quatro primeiros voluntários deverão pousar em Marte em 2023, após uma viagem de sete meses. Sua chegada e seus primeiros passos para montar uma colônia no planeta vermelho serão exibidos na forma de reality show. “Diferentemente da cobertura televisiva dos Jogos Olímpicos, a Mars One pretende manter o interesse da mídia mundial de forma duradoura após a seleção dos astronautas, seu treinamento, lançamento e chegada a Marte”, diz o holandês Bas Lansdorp, co-fundador da Mars One.
Segundo os organizadores, a  empresa já recebeu 10.000 e-mails de pessoas de mais de cem países diferentes interessadas em fazer parte da missão. “O objetivo da Mars One é levar os seres humanos a Marte. Precisamos do interesse do mundo para fazer isto acontecer”, diz Lansdorp.
Cronograma – A primeira rodada de candidaturas online se estenderá até 31 de agosto. Especialistas da empresa elegerão os aspirantes a astronautas que continuarão na disputa. Em seguida, cada país escolherá um candidato e finalmente restarão entre 24 e 40 pessoas que serão treinadas para a missão.
Sem a viagem de retorno, os custos do projeto diminuem consideravelmente. A primeira missão, com quatro astronautas, é estimada em seis bilhões de dólares. A organização aposta na cobertura midiática do projeto para angariar recursos e financiar boa parte da viagem. “Parece um montão de dinheiro – e na verdade é um montão de dinheiro. Mas imagina o que vai acontecer quando as primeiras pessoas pousarem na superfície de Marte. Todo mundo vai querer ver”, afirma Landsdorp.
O projeto foi recebido com ceticismo pela comunidade científica, mas recebeu o apoio do cientista holandês Gerard’t Hooft, ganhador do Nobel de Física em 1999. “Ainda sou cético, devido aos contratempos e complicações, mas isto é tecnicamente possível”, disse Hooft.
O projeto da Mars One traz vários desafios. Marte é um grande deserto com atmosfera constituída, sobretudo, de dióxido de carbono e com temperatura média de 63 graus Celsius negativos. Além da impossibilidade de os astronautas voltarem à Terra, eles terão que viver em pequenos habitats, encontrar água, produzir o próprio oxigênio e cultivar seus alimentos em um ambiente hostil.
Os astronautas também deverão suportar radiações cósmicas perigosas durante a viagem. Por fim, ainda não há um foguete e uma cápsula para transportar os voluntários.
Mas para os membros da Mars One, o maior risco é o financiamento, o que não impede que a organização sonhe alto. “O objetivo de longo prazo é ter uma colônia permanente, não só mandar gente para lá”, afirmou Norbert Kraft. (FONTE: Veja)